“Eu, Robô” e a Realidade da IA: Profecia ou Advertência?

Um olhar pessoal sobre a evolução da inteligência artificial a partir de uma perspectiva cinematográfica.

7/24/20243 min ler

Há 20 anos, quando assisti “Eu, Robô” pela primeira vez, jamais imaginaria como suas reflexões sobre os medos e possibilidades da inteligência artificial (IA) se tornariam tão relevantes. Na era dos chatbots e da IA avançada, o filme estrelado por Will Smith parece mais atual do que nunca.

Lembro-me de como fiquei impressionado com a Chicago futurista de 2035. A trama acompanha um detetive de homicídios, interpretado por Will Smith, que investiga a morte misteriosa de Alfred Lanning, fundador da U.S. Robotics. Inicialmente considerado um suicídio, o caso logo levanta suspeitas de assassinato, com um robô humanoide se tornando o principal suspeito. À medida que a história se desenrola, vemos o detetive lutando para impedir uma revolta das máquinas contra os humanos.

Baseado nos contos de Isaac Asimov, “Eu, Robô” arrecadou US$ 353 milhões em bilheteria, apesar das críticas mistas. Mas, ao rever o filme hoje, na era da IA, suas premissas parecem quase proféticas.

No filme, a U.S. Robotics programou seus robôs para seguir três leis que atuam como um código moral: proteger os humanos, obedecer ordens humanas (exceto quando estas entram em conflito com a primeira lei) e preservar sua própria existência, desde que não viole as leis anteriores. Esse sistema de governança busca garantir que a tecnologia não possa enganar, machucar ou matar humanos. Mas o que acontece quando a IA se torna mais inteligente e começa a questionar sua própria programação?

Esse dilema sempre me intrigou. Duas décadas depois, vemos bilhões de dólares sendo investidos em IA que podem gerar resultados criativos e analisar dados complexos em segundos. A questão da segurança da IA é debatida amplamente, como ilustrado pela tentativa do cofundador da OpenAI, Ilya Sutskever, de destituir o CEO Sam Altman por divergências sobre as possíveis consequências dessa tecnologia. Recentemente, Sutskever fundou a Safe Superintelligence, uma startup focada em construir uma IA superinteligente e segura.

No filme, o sistema superinteligente Viki interpreta as Três Leis de maneira a proteger a humanidade de si mesma, o que leva a um confronto com o personagem de Will Smith. Viki argumenta que, para evitar a autodestruição, os humanos não podem ser deixados no controle de sua própria sobrevivência. Esta reflexão sobre autogovernança destaca a ausência de regulamentações federais e a predominância da U.S. Robotics como contratada do exército, sublinhando os riscos de depender exclusivamente de regras corporativas.

No mundo real, os reguladores estão lentamente implementando medidas para conter os riscos da IA, buscando um equilíbrio entre inovação e segurança. Aqui no Brasil, por exemplo, Santa Catarina tem se destacado como um polo tecnológico, abrigando empresas inovadoras que utilizam IA em várias áreas. Em 2023, a startup catarinense Neoway desenvolveu um sistema de IA capaz de otimizar a gestão de recursos hídricos, ajudando a prever enchentes e secas com maior precisão. Esse tipo de aplicação mostra como a IA pode ser uma força positiva, ajudando a resolver problemas complexos e melhorar a qualidade de vida.

Pensando sobre isso, não posso deixar de me perguntar: estaremos preparados quando nossas IAs tiverem rostos e corpos humanoides? E, mais importante, devemos ou não regular a tecnologia?

“Eu, Robô” continua a ser uma obra relevante, proporcionando uma perspectiva valiosa sobre o futuro da IA e a importância de pensar na governança. O futuro retratado no filme pode não ser inevitável, mas serve como uma reflexão para as possibilidades que nos aguardam. Ao refletir sobre esses temas, sinto-me inspirado a acompanhar de perto os avanços da tecnologia e a discutir suas implicações, sempre buscando um equilíbrio entre inovação e ética.

Sidney Hamada